Lendo os aforismos de Georges Braque ("O Dia e a Noite – Cadernos， 1917-1952"， editora 34)baixar jogo do tigrinho para ganhar dinheiro， lembrei da transformação do filme "Emilia Pérez" de objeto de admiração premiado em Cannes em bode expiatório.

Não sou fã nem detrator do filme e sei que ele talvez já nem seja assunto， mesmo concorrendo a 13 Oscars， mas a rapidez com que passou da glória à desgraça， por razões em grande parte morais e exteriores à obra， sinaliza um contexto bem mais amplo e importante do que a esfera e o tempo da notícia.

Braque viveu outro momento da arte. Nos seus aforismos， leem-se coisas que podem soar ultrapassadas ou até incompreensíveis， mas que até outro dia eram as mais sensatas: "a liberdade (...)， para nós， é a transgressão do permitido"; "jamais aderir"; "é o imprevisível que cria o acontecimento". Ou ainda: "escrever não é descrever， pintar não é figurar"; "uma coisa não pode ser ao mesmo tempo verdadeira e verossímil"; "a verossimilhança não é mais que ilusão de ótica" e "fujo ao meu semelhante. Em todo semelhante há um sósia."

Tudo aí， na perspicácia e na ironia， tem a ver com a ideia de que a arte é o que escapa à norma e aos consensos， à correspondência a modelos previamente definidos e aceitos. É uma diatribe contra o moralismo， o conservadorismo e o academicismo do seu tempo.

A desgraça de "Emilia Pérez" começou com um problema de autoimagem (mexicanos não se reconheceram na representação que o filme faz de seu país) e de cunho moral (a violência e a morte estariam vedadas a certas representações; representá-las num musical equivaleria a blasfemar).baixar jogo do tigrinho para ganhar dinheiro

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